Os Primeiros Humanos
Os Filhos dos Deuses
Com o fim da Guerra das Eras, os doze deuses, antes de mais nada, se uniram para conversarem. Eles tinham muitas desavenças uns com os outros, especialmente com aqueles que eram seus respectivos opostos. Além disso, a guerra gerou muitas mágoas e rancores entre todos eles que poderiam durar muito tempo, afinal eram imortais e o tempo para eles não era nada, então para evitar conflitos por causa de rancores passados, eles começaram a conversar. E eles conversaram, por muito tempo. Por vezes, a conversa se escalava e quase desencadeava uma outra briga, mas os outros interviam, pois não estavam ali para brigar, e sim para se resolverem. Após terem dito praticamente tudo que eles tinham, os doze fizeram um pacto entre eles: nunca eles permitiriam que um desentendimento entre eles causasse uma nova guerra e todos os possíveis ressentimentos e rancores gerados por essa guerra estavam estritamente proibidos de serem usados como motivação.
Tendo resolvido esse problema principal, os deuses tinham outro assunto a resolver, que foi a causa da guerra: onde estava o cristal Omphalos? Os doze se questionaram quem, no fim das contas, estava com o cristal, mas a verdade era que nenhum deles havia roubado o cristal. O mesmo havia simplesmente desaparecido, e foi encontrado após o fim da guerra. Como? Por quê? Eles não sabiam, porém tinham certeza de uma coisa: tal objeto jamais deveria voltar a existir naquele mundo. Isso era algo que todos concordavam, mas antes que pudessem destruir o cristal, um dos deuses, Parthenos, a pura, relembrou como Pandoron estava destruída. E de fato, os efeitos colaterais causados pela guerra e o pleno uso dos poderes deles era maiores do que podiam imaginar, pois nunca haviam usado os poderes de suas leis até o limite. Quando os doze deuses criaram os seus respectivos reinos, eles levaram consigo as respectivas leis que os criaram, que seria o coração e a fonte principal de poder deles. Elas haviam sido incorporadas no reino não só para dar poderes aos deuses, mas também para sustentarem a natureza daquele lugar e garantir seu domínio sobre eles, afinal vira e mexe os doze entravam em conflito para expandir seu reino, mas nada no nível da Guerra das Eras até então. Então, os centros dos reinos, as leis, também chamadas de Relíquias Ancestrais, assumiram formas diferentes para se integrarem ao local.
- A Relíquia do Fogo tomou a forma de uma fogueira cujas chamas arderiam pela eternidade e cujas brasas, fragmentos da lei, carregavam o mesmo calor eterno.
- A Relíquia da Terra tomou a forma de uma árvore gigantesca, que tinha por tronco o mais duro metal a ser conhecido em Pandoron e por folhas todas as joias existentes.
- A Relíquia do Ar tomou a forma de um tornado que gira eternamente enquanto envolto por correntes de ventos que geram ventos que percorrem toda a área ao redor.
- A Relíquia da Água tomou a forma de uma fonte da qual sempre saía água, sem jamais faltar nada do líquido na mesma, nem jamais transbordar de seus limites.
Todos os deuses se conheciam muito bem, afinal estavam juntos desde seu o nascimento. Isso significa que, uns para os outros, suas habilidades, especialidades, poderes e potenciais eram conhecidos por todos os doze; além do mais, a guerra não era de um reino contra o outro, mas sim de cada um dos doze deuses contra todos os outros onze. Dessa forma, apenas suas capacidades do então momento não seriam o suficiente para lhes conceder a vitória naquela guerra, então eles recorreram às leis. Durante o conflito, os doze deuses estavam tentando puxar uma maior parcela de suas leis para si e retirar o máximo possível de controle da parte dos outros. Esse, literal, cabo de guerra nas leis causou as mesmas a perderem o controle, não só fornecendo mais poder aos deuses, como também destruindo tudo o que tinha ao redor, o que inclui os quatro reinos divinos, atualmente apenas ruínas.
Com todo aquele conflito, e a atenção dada a ele por Parthenos, os deuses perceberam os reais perigos das leis ao mundo deles. Assim, se quisessem manter Pandoron inteiro, eles teriam que as afastar do mesmo, para que caso estas ficassem fora de controle novamente, não causassem uma catástrofe dessa magnitude novamente. E assim eles fizeram. Usando o conhecimento que todos criaram com relação a Omphalos, os deuses criaram cinco dimensões distintas: quatro para qual iriam cada uma das quatro ruínas, agora seladas e de acesso proibido, e uma quinta onde iriam habitar enquanto reconstruíam o mundo. Assim, os deuses se mudaram para a nova dimensão vazia deles e lá decidiram que já não havia mais necessidade deles manterem o cristal. Apesar deste facilitar o controle do Éter, com o conhecimento que eles adquiriram estudando o cristal, que era literalmente um fragmento puro da lei, eles podiam controlar a mesma sem ele. Então, os doze, com seus poderes combinados, destruíram o cristal.
Para a surpresa deles, no entanto, o cristal estourou e se repartiu em 13 orbes de éter puro, mais puro que as fontes que as que eles encontravam em fissuras que escapavam do solo. Os doze não esperavam por aquilo, e não sabiam como reagir àquela situação, já que os próprios orbes estavam inertes. Cansada do suspense, Ákrios se aproximou e tocou um dos orbes, e recebeu uma reação imediatamente. Os outros onze testemunharam como parte das chamas de Ákrios foi sugada pelo orbe, que perdeu a sua cor pálida e adquiriu o mesmo tom vermelho do fogo, desceu no chão e perdeu a sua luz, deixando em seu lugar duas formas, muito similares à deusa, mas pequenas, e de ambos os sexos. Os deuses estavam espantados, especialmente quando ambas as formas começaram a chorar, mas para surpresa deles, Ákrios foi rápida em acolher os dois pequenos em seus braços e os acalmar. Estes logo dormiram, embalados pelo calor da deusa.
Os outros onze ficaram perdidos, sem entender o que havia acontecido, mas então Ganymede, o príncipe, se lembrou do que seus pais, Kháos e Gé, lhes disseram sobre seu nascimento, de como eles eram fragmentos das leis que ganharam vida através do Éter. Ele também lembrou de como disseram que eles, os irmãos, se pareciam com eles, mas "menores", não somente em tamanho, mas também em termos de poder. Assim, os olhares de todos se voltaram para mais velha, que ainda segurava os dois seres, e ela confirmou ter tido essa sensação no momento que depositou seus olhos sobre eles: eram como ela, mas pequenos, fracos e frágeis. Os deuses estavam tentando entender do que se tratava, porém a confusão foi quebrada por Skorpios, o escorpião, que disse: "Eu quero dois para mim também."
Houve um certo momento de silêncio entre os deuses, até que mais um começou a dizer que também queria, e depois outro, e mais um, até que todos os onze haviam manifestado seu desejo de ter seres iguais a eles como sua irmã. Assim, para ordenar as coisas, Ákrios permitiu que cada um tocasse em um dos orbes, mas na ordem de seu nascimento. Assim foi Tauris, seguido de Dioscuros, Karkinos, até o último deles. Todos eles perceberam como os seres criados eram semelhantes a eles, mesmo na forma que nasceram, com Dioscuros e Piscis recebendo dois pares cada um. Não houve briga sobre isso, afinal eles se conheciam desde seu nascimento e sabiam que apesar de Dioscuros e Piscis serem um par de indivíduos cada, eles se consideravam como um único ser. Os deuses então decidiram criar aqueles pequenos seres, assim como seus pais haviam feito com eles.
O tempo se passou, e a vida seguiu para os habitantes de lá. Os doze deuses se revezavam na hora de criar os seus filhos e na hora de restaurar o mundo. As divindades percebiam como eles cresciam, e se tornavam como eles, mas também como sua vida, diferente deles, parecia se esvair, e tão rapidamente. Vendo que o tempo deles era limitado, diferente deles, os irmãos decidiram viver permanentemente naquela dimensão, a qual chamaram de Deucalius, e deixar Pandoron, uma vez reconstruída, para suas criações. Quando eles já estavam crescidos, a restauração do mundo estava feita e eles levaram o mundo para lá. Os seus filhos pareciam maravilhados com aquele lugar novo e os deuses lhes revelaram que aquela era a nova casa deles, que eles fizeram especialmente para eles, que deviam explorar e viver naquele lugar. Eles ficaram felizes, mas tristes de que o mundo parecia tão simples, e vazio. Então, os deuses lhes entregaram o último orbe, que havia sido mantido com cuidado pelos deuses, e lhes avisaram de seu poder, dizendo que confiariam neles para fazerem o que quisessem. Então, partiram.
Os doze já haviam descoberto que suas criações não eram imortais como eles, e que eventualmente iriam passar por algo que batizaram de "morte", que era o fim que esperava toda a vida não imortal, e não suportavam a ideia de ver seus filhos morrerem, como quer que isso fosse se dar. Então, os doze deuses haviam decidido que iam entregar aquele mundo para seus filhos e seguir com suas vidas, para não os ver morrer.
Os anos se passaram, e apesar de não os verem, os deuses podiam os sentir e sabiam como mais e mais seus filhos enfraqueciam, se aproximando mais e mais do tão temido fim deles. Eventualmente, Ákrios não aguentou mais. Uma de suas crianças estava tão fraca que poderia desaparecer a qualquer momento. Ela tinha que ver sua criação, pelo menos uma última vez. Então, sem avisar nenhum dos outros, ela deixou Deucalius e foi para a Pandoron, ver suas crianças. A surpresa dela foi imediata quando ela percebeu que o mundo, antes vazio, agora tinha outras vidas ali, tão diferentes dela, mas ainda assim vidas. Confusa, ela procurou os seus filhos, e os encontrou, frágeis, tão diferentes do que ela havia os deixados, mas cercados de outras criaturas como eles eram quando pequenos. A deusa ficou confusa, mas foi recebida de braços abertos pelos seus filhos, que há tanto tempo não a viam, e pelos filhos deles, seus descendentes.
Quando questionados pela sua mãe, os dois disseram como todos os filhos dos deuses, que se nomearam humanos, decidiram entregar a energia para o mundo, e como a vida floresceu, dando origem a coisas que eles chamaram de plantas e animais, que eles nomearam. Eventualmente, eles descobriram como eles eram capazes de se unir e criar vidas como eles próprios, diferente de como os deuses haviam lhes criado, mas ainda assim iguais a eles. A deusa ficou por dias com eles ali, até a morte de seus filhos, então voltou para contar aos outros deuses o que havia feito e o que havia ouvido. Os outros ficaram maravilhados e foram até Paradon para verem isso com seus próprios olhos, e ver os seus filhos. Todos permaneceram do lado de suas crianças até o dia que estas morressem, explorando e conhecendo o mundo novo deixado por suas criações.
Após isso, os deuses se retiraram novamente daquele mundo, afinal Paradon havia sido um presente para seus filhos, e para eles, os filhos de seus filhos ainda eram seus filhos. Mas antes disso, eles nomearam aqueles pequenos seres de humanos, cada um recebendo uma nomeação por qual divindade eles descendiam, e uma benção deles. Os deuses haviam jurado não interferir em Paradon enquanto seus filhos vivessem, mas agora vendo seus descendentes, eles renovaram o juramento para eles nunca mais interferissem naquele mundo a menos que um de seus filhos assim pedissem. Esta foi a benção deixada a eles: a capacidade de pedir intervenção dos seus criadores para lhes ajudar. Claro, eles não iriam descer no mundo por qualquer coisa, pois conheciam o seu próprio potencial destrutivo, mas um conselho sussurrado, ou um aumento em seu poder eram coisas em seu alcance, desde que não interferissem diretamente naquele mundo.
E assim surgiram os primeiros humanos, os filhos dos deuses.